Manuel Ferraz de Campos Sales, mais conhecido como Campos Sales, foi o quarto presidente do Brasil, governando de 1898 a 1902. Ele teve um papel fundamental na consolidação da República brasileira e na implementação de uma política econômica austera, que marcou sua administração e deixou um legado duradouro para o país.
Campos Sales nasceu em 15 de fevereiro de 1841, em Campinas, São Paulo. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo, no Largo de São Francisco, em 1863, e iniciou sua carreira como advogado, atuando em sua cidade natal. Sua inclinação política o levou a filiar-se ao Partido Liberal, e logo se destacou como um defensor fervoroso da abolição da escravidão e da proclamação da República.
Com a Proclamação da República em 1889, Campos Sales tornou-se uma figura importante no novo cenário político brasileiro. Foi eleito senador e, posteriormente, governador de São Paulo (1896-1897), onde se destacou pela habilidade administrativa e pela implementação de políticas econômicas que visavam a austeridade e o equilíbrio fiscal.
Em 1898, Campos Sales foi eleito presidente do Brasil, sucedendo Prudente de Morais. Sua administração foi marcada por uma política de austeridade fiscal, pela renegociação da dívida externa e por uma tentativa de estabilizar a economia brasileira, que enfrentava grandes desafios após os primeiros anos da República.
Campos Sales é amplamente conhecido por instituir a chamada Política dos Governadores, uma estratégia de governabilidade que visava garantir a estabilidade política do país. Essa política consistia em um acordo informal entre o governo federal e os governadores dos estados, garantindo apoio mútuo. O governo federal apoiaria os governadores em suas respectivas administrações, e estes, por sua vez, assegurariam apoio ao presidente e suas políticas no Congresso Nacional. Essa aliança entre os governos estaduais e federal foi fundamental para manter a estabilidade política durante seu mandato e marcou a política brasileira durante grande parte da Primeira República.
O principal desafio de Campos Sales foi lidar com a crise econômica e financeira que afetava o país desde a Proclamação da República. Para isso, ele negociou o Funding Loan, um acordo financeiro com banqueiros britânicos em 1898, que resultou na renegociação da dívida externa brasileira. Esse acordo garantiu um período de carência de três anos para o pagamento da dívida e permitiu a reorganização das finanças públicas, mas, em contrapartida, impôs uma série de medidas de austeridade econômica, incluindo a redução de gastos públicos e o aumento de impostos.
O Funding Loan foi fundamental para estabilizar a economia brasileira, mas também gerou críticas devido às condições impostas pelos credores estrangeiros e ao impacto das medidas de austeridade na população. Campos Sales, no entanto, considerava que essas medidas eram necessárias para garantir a solvência do país e restaurar a confiança dos investidores internacionais no Brasil.
Campos Sales implementou uma série de reformas monetárias e fiscais para restaurar a confiança na moeda brasileira e estabilizar a economia. Ele adotou uma política monetária rígida, com controle da emissão de papel-moeda, e medidas para controlar a inflação e evitar a desvalorização da moeda nacional. Além disso, promoveu uma reforma fiscal para aumentar a arrecadação e reduzir o déficit público, o que incluiu cortes significativos nos gastos do governo e uma política de contenção de despesas.
No campo das relações internacionais, Campos Sales buscou fortalecer os laços com os países europeus, especialmente a Inglaterra, que era o principal credor do Brasil. Seu governo também promoveu a aproximação com os Estados Unidos, em um momento em que o Brasil buscava se afirmar como uma nação republicana e democrática no cenário internacional.
O governo de Campos Sales enfrentou várias críticas, especialmente devido às políticas de austeridade, que afetaram negativamente a economia interna, especialmente no setor agrícola, gerando insatisfação entre fazendeiros e trabalhadores. A recessão econômica, o desemprego e o aumento dos impostos causaram tensões sociais e oposição política em algumas regiões do país.
Além disso, a Política dos Governadores consolidou a prática do “coronelismo”, um sistema de poder local onde os grandes proprietários de terras, conhecidos como coronéis, controlavam o voto dos eleitores e, em troca, ofereciam apoio político ao governo federal. Essa prática levou a críticas de que o governo de Campos Sales estava promovendo a corrupção e a manipulação política em benefício próprio.
Campos Sales deixou a presidência em 15 de novembro de 1902, sendo sucedido por Rodrigues Alves. Apesar das críticas, sua gestão é vista por muitos historiadores como um período de transição importante para a consolidação da República brasileira e da estabilização econômica do país. Seu governo estabeleceu as bases para a administração pública brasileira durante a Primeira República e influenciou significativamente a política econômica e o sistema político do país nas décadas seguintes.
Após deixar a presidência, Campos Sales retornou à vida política como senador por São Paulo, onde continuou a influenciar a política nacional até sua morte, em 28 de junho de 1913, aos 72 anos, em Santos, São Paulo. Ele é lembrado como um político pragmático, que tomou decisões difíceis em um período de grande incerteza, deixando um legado de austeridade fiscal e de fortalecimento das instituições republicanas no Brasil.